A promessa que muda tudo: eu não vou te interromper. [capítulos 1 a 3]

Marina Galvão
20 min readJul 20, 2021

Tradução livre feita por mim, com base no livro The Promise That Changes Everything escrito pela Nancy Kline. Penguin Books Ltd. Os capítulos 1 a 3 foram traduzidos por mim nesse artigo e os capítulos 4 a 7 foram traduzidos pela Marcelle Xavier. Esses capítulos foram usados como base para o Grupo de Estudos realizado pelo Instituto Amuta dia 02/06/21.

Cap.1: A Diferença

Eu não irei te interromper.

Eu prometo.

Eu não irei interromper as suas palavras — ou os seus pensamentos.

Imagine isso.

Imagine o alívio, as possibilidades, a dignidade.

Agora você tem um terreno que é seu.

Inexoravelmente.

Isto é para você. Tempo para pensar. Para sentir. Para descobrir o que você realmente quer dizer. Para dizer, para considerar. Para mudar. Para terminar as suas sentenças, para escolher as suas próprias palavras. Para se tornar — porque você pode confiar na promessa — um pouco ousado, até mesmo eloqüente. Para se tornar você.

E porque você sabe que eu não irei te interromper, você irá querer, quando terminar, saber o que eu penso também, mesmo que discordemos profundamente. Você abre o seu coração. E porque você, por sua vez, promete não me interromper, eu abro o meu.

Todos nós desejamos isso, a promessa de nenhuma interrupção, a promessa do interesse, a promessa da atenção enquanto nós pensamos, a promessa desse respeito por todos nós como seres humanos. Nós ansiamos por aquela expansão suave e rigorosa que produz pensamentos sensíveis e sentimentos atenciosos.

Todos os dias, em todas as interações, vitais ou triviais, nós esperamos pelo tipo de presença que permita que nossos cérebros e corações se encontrem.

Nós nascemos para isso. Na verdade, de acordo com a ciência, nascemos esperando por isso. Nossos cérebros precisavam disso para continuar se formando quando éramos crianças, quase marsupialmente.

E eles ainda precisam. Para serem totalmente Homo Sapiens, nossas mentes e corações precisam dessa promessa.

E ainda assim?

Não está em nenhum lugar. Nós olhamos ao redor. Nós não conseguimos encontrar. Nós só vemos interrupção. Nossos colegas interrompem. Nossos profissionais interrompem. Nossas pessoas amadas interrompem. Nossos amigos interrompem. Nós interrompemos.

Aonde, em seus círculos, você pode apontar para uma única pessoa que você tem certeza que não irá te interromper ou te impedir quando você estiver falando? Quem, nos seus círculos, já fez essa promessa para você? E manteve? E você? alguma vez já fez essa promessa para alguém?

Muito provavelmente não. Essa é a chocante verdade. A única coisa que nós podemos absolutamente contar na vida é que nós seremos interrompidos quando começarmos a pensar.

Na verdade, de acordo com o Instituto Gottman em Seattle, há três anos atrás o tempo médio de escuta, inclusive de “ouvintes profissionais”, era de vinte segundos. Agora é onze segundos. Onze segundos! E aqueles entre nós que são pagos para ouvir — coaches, terapeutas, médicos, gerentes, líderes, professores, pastores, conselheiros — pagaram por infindáveis instruções sobre como ouvir. Mas as instruções são efetivas em como inserir, como fazer barulho, como justificar o povoamento do silêncio com nossa própria visão. É a escuta que espera que interrompamos. Ou é o que parece. Certamente, notavelmente, ela não exige que prometamos não fazê-lo.

E então nós interrompemos. Todos nós. Pagos ou não. Parceiros e parentes. Líderes e aprendizes. Assalariados e acionistas. Nos movemos pelos nossos dias e anos interrompendo os outros e falhando em nos esquivar quando os outros nos interrompem.

E isso importa. A interrupção nos diminui. Diminui o nosso pensamento. Diante da interrupção o nosso próprio pensamento quase não tem a chance de se formar. Isso significa que as nossas decisões são mais fracas; nossos relacionamentos são mais estreitos. A interrupção de pensamento é tão destrutiva, na verdade, que o que produzimos como espécie, por mais avançado que seja no reino animal, é provavelmente inferior às realizações que a mente humana ininterrupta poderia ter produzido durante aqueles eras.

Na verdade, você poderia mencionar praticamente qualquer “questão que te persegue” em sua vida, que eu iria me perguntar se você já não teria resolvido isso, caso você não tivesse sido interrompido tantas vezes até agora. Eu também poderia nomear quase qualquer inovação, desde motores a vapor até explorações ao ciberespaço, e argumentar que a humanidade poderia muito bem ter pensado em coisas mais elegantes e nutritivas se nosso pensamento não tivesse sido tão interrompido pelo caminho.

As questões mais vitais que os seres humanos têm se perguntado ao longo das eras — como podemos educar? Como podemos curar? Como podemos merecer? Como podemos governar? Como podemos julgar? Quem deve ser rico e quem deve ser pobre? O que é uma nação e o quem somos nós afinal? Quem está certo? — poderiam ter produzido respostas mais sustentáveis, igualitárias, integradas, dignas, se nós não tivéssemos interrompido uns aos outros com tanta frequência em nossas conversas, reuniões e reflexões e, também, se nós não tivéssemos interrompido nós mesmos, porque as interrupções dos outros ao longo dos anos, nos convenceram que, de qualquer forma, nós não tínhamos tanto a oferecer.

Nossos relacionamentos? Eu com certeza não preciso articular sobre a diferença que a promessa da não interrupção poderia ter feito em cada uma das relações humanas desde que a linguagem foi desenvolvida. Pense nas suas relações. Imagine elas sem interrupção. Imagine a doce e estimulante robustez que cresceria a partir dessa promessa. Eu sempre me questiono se a quantidade de divórcios reduziria dramaticamente se houvesse um voto de não interrupção nos casamentos.

Então, como se a interrupção de uns aos outros não fosse suficiente para ministrar à diminuição de nossas mentes independentes e o encolhimento do significado em nossas relações, entram os smartphones. Mais precisamente hurtphones (telefones que machucam) ou stupidphones (telefones estúpidos). Com os seus serviços e plataformas integradas que colonizam a nossa atenção, eles dão uma ‘bofetada’ em nossos cérebros e os deixam vazios. Implacavelmente distraído, nosso pensamento começa a sofrer uma “hemorragia”.

Claro que essa perda não é inteiramente culpa dos aparelhos. Ela é principalmente nossa. Mesmo que os smartphones tenham sido propositalmente desenhados com uma arquitetura que promove a distração com suas notificações, a nossa prostração é o verdadeiro problema. Nossa obediência rebaixa o humano, e nós fingimos que não. Nós não tomamos conta da nossa atenção. Nossos pequenos robôs que tomam. E nós acariciamos eles.

Isso nós podemos parar. Nós podemos parar todas as formas de interrupção. (Existem mais formas do que você pensa, e nós vamos explorar todas elas.) Você pode decidir agora mesmo ser o mestre da sua atenção, se comprometer com o florescer das nossas mentes, dos nossos corações, da nossa natureza.

Essa atenção, essa promessa de não interromper, esse ato de respirar livremente é prodigioso. Ele muda as coisas. Inclusive as coisas “grandes”. Ele concede sanidade. Ele dá forma e revela, e dá forma novamente a quem você é. Ele oferece facilidade diante da incerteza. Ele pode parar coisas como o ódio e iniciar coisas como o amor. Ele resgata as nossas reuniões da vacuidade, cria lugares fabulosos para trabalhar, traz humanidade para a liderança e liderança para a humanidade. A atenção, alguns já me disseram, é o que queremos dizer por “deus”.

Ele lança sonhos. Os sonhos que nós temos para nós mesmos, sim; mas também os sonhos para o nosso mundo. Todos nós temos esses sonhos. Mesmo o mais cínico de nós. Nós crescemos cautelosos, desconfiados e dispostos a nos afastarmos uns dos outros, e de nós mesmos.

A promessa da não interrupção, sustenta a atenção generativa, e pode nos aproximar uns dos outros.

Na verdade, a decisão de não interromper uns aos outros é poderosa o suficiente para mitigar a questão preponderante nas relações atuais, a questão que rompe as conversas no trabalho, na política, na religião, entre vizinhos, entre familiares e invisivelmente dentro de nós mesmos — a bifurcação social que nós chamamos de polarização. Esse flagelo contemporâneo é ancestral. E já é hora de nós o enfrentarmos, enfrentando a sua causa.

Polarização não é o resultado da discordância. É o resultado da desconexão. Quando nós nos desconectamos uns dos outros, quando nós deixamos de ver uns aos outros como seres humanos e passamos a ver como ameaças, nós polarizamos. E o primeiro e mais vigoroso desconector é a interrupção.

Eu penso que a polarização em cada uma de suas instâncias, começa com, e se alimenta da, interrupção. No primeiro minuto que um de nós, em um forte desentendimento com o outro, o interrompe, o cérebro registra a interrupção como um ataque físico. Imediatamente os hormônios cerebrais da adrenalina e do cortisol banham o córtex, o próprio centro de nosso pensamento; a amígdala, ditadora dos sentimentos, despacha instantaneamente as ações de congelar, fugir, lutar. E, rapidamente, nós nos desligamos. Nosso pensamento se encolhe. E nasce a polarização.

Mas eu já vi pessoas romperem esse ciclo. Eu já vi elas se reunirem, determinadas a se entenderem, a não a convencerem umas às outras. Crucialmente, elas chegaram tendo prometido parar de interromper. Elas concordaram 1) em começar a dar atenção, 2) em permanecer interessadas em onde o pensamento uma da outra irá em seguida e 3) em “compartilhar o palco” igualmente.

A promessa de não interrupção é composta por esses três ingredientes e muda a conversa das pessoas para sempre. Novas possibilidades emergiram. Esses três ingredientes caminharam juntos. Não para um “pôr-do-sol”. Foi melhor do que isso. Eles caminharam para a semente e a teia de um novo pensamento que brota da integridade emocional, da compreensão e do apreço mútuo pelos efeitos desta poderosa promessa.

Eu não vou interromper você.

Isso muda tudo.

Ótimo, você pode estar pensando. Eu estou dentro. Mas certamente eu não preciso continuar lendo? Será que eu não posso ir para casa, parar de interromper e, “pá”, mudar o mundo?

Em teoria, sim.

Deveria ser suficiente para cada um de nós apenas notar esta prática descontrolada, socialmente recompensada e devastadora de interromper, esta violência generalizada e sancionada contra o pensamento humano independente, e resolver parar de praticá-la hoje.

Mas não é. Esta prática de interromper a fala e o pensamento das pessoas é alimentada por um nível ideológico dentro de nós. Nós achamos que é a coisa certa a fazer. Realmente achamos. Oh, sabemos que não é realmente educado ou atencioso, então às vezes pedimos desculpas enquanto o fazemos. Mas continuamos. Achamos que é quase sempre justificado, e talvez até mesmo a melhor coisa que pode acontecer naquele momento. Achamos que estamos até mesmo economizando tempo ao derrubar a pessoa que está falando enquanto nós aguentamos.

A ilusão leva algum tempo para ser desfeita.

Primeiro, precisamos realmente conseguir absorver que a interrupção é um ato violento. Para começar, precisamos entender o que é a interrupção. Temos que reconhecer todas as suas formas perniciosas e engenhosas.

E então temos que examiná-la em nível “celular”. Temos que ver as suposições falsas que a impulsionam, desmontá-las e começar de novo com as verdadeiras.

Manter a promessa de não interrupção é um trabalho difícil.

Difícil porque esta promessa é uma galáxia sem espirais. Ela se estende para além de nosso campo de uma vez. Isso desafia nosso “engolir”. Seu todo não pode ser analisado e, no entanto, deve ser compreendido.

Todos os dias, ao longo dos anos, pensei repetidamente que havia visto essa promessa em toda a sua glória. Cada vez que a vi, pensei que a havia dominado, que não havia mais para ver, que não havia mais para acrescentar à sua definição ou ao seu efeito. Senti-me confiante de que estava fazendo isso exatamente como escrevia, ensinava, falava e tentava viver isso todos os dias. Eu me comprometi com o seu tesouro e tenho certeza de que guardei tudo em meus braços. Mas antes que eu pudesse expirar, eu, assustada, a vi como se fosse a primeira vez. E eu tive que sorrir.

Também vi pessoas reivindicarem essa promessa, colocá-la em seus portfólios de escuta, vendê-la como seu conjunto de habilidades e não chegar perto. É como se nunca pudéssemos saber. É como se estivesse aqui e não aqui, evidente e evasivo, acabado e fetal ao mesmo tempo.

Acho que isso ocorre porque essa promessa é diferente de qualquer outra coisa que fazemos um com o outro. Eu quero dizer isso de novo. Isto é diferente.

É diferente porque requer uma atitude de humildade, um rico respeito pela diferença e pelo “outro”. É diferente porque altera a aparência de estabilidade. É diferente porque deseja e produz um pensamento independente. E por isso é subversivo. Sucessivamente. É diferente porque exige que paremos de querer impressionar e comecemos a querer libertar. Isso muda o que nós chamamos de conhecimento. Muda o que cobramos e pagamos e o que recompensamos. Isso pode mudar nosso próprio propósito.

Essa promessa e seus efeitos luminosos são diferentes. Mas os humanos não podem ver a diferença toda de uma vez. Nossas predisposições, nossos rituais, nossas normas — neste caso a interrupção e seus resultados desgastados e fragmentados — são nosso contexto habitual. Eles são nossos pontos de referência para o que é. Então, eles são tudo o que vemos.

Nós, portanto, temos que derrubar essas normas implacáveis, uma a uma, a fim de perceber sua ausência radiante.

Este sentimento começa por enfrentar o vazio das nossas desculpas para a interrupção: ‘eu preciso esclarecer; eu preciso corrigir; eu preciso parecer inteligente agora; eu devo enriquecer; eu devo seguir minha própria curiosidade; eu sei onde você quer chegar com isso; eu preciso levar você para outro lugar; seu pensamento em formação é menos valioso do que o meu pensamento formado; eu sou mais importante do que você; eu pareço uma idiota sem falar; ninguém precisa ouvir tanto; você nunca vai parar.

Nenhum deles é digno de nós.

Portanto, espero que você se afaste dessa cultura crepuscular e siga a primeira luz: o poder que logo se tornará óbvio dessa promessa e de seu efeito na inteligência à nossa frente. Incluindo a sua própria.

Parar de interromper -

1) começar a dar atenção

2) sustentar o interesse em para onde a pessoa irá em seguida

3) “compartilhar o palco”

- possivelmente compreende o agrupamento mais simples de mudanças complexas que jamais faremos.

Cap. 2: A Busca

Tudo começou com a rendição. Um dia, assim mesmo, eu desisti. Depois de três anos tentando de tudo, eu admiti que não sabia de nada. Eu tinha quarenta anos.

Três anos antes, eu havia decidido descobrir os segredos do pensamento independente. Armada com a percepção de que a qualidade de tudo o que os seres humanos fazem depende da qualidade do pensamento independente que temos, conclui que, para criar o mundo que desejamos, precisamos pensar bem por nós mesmos. E, pelo que pude ver, quase ninguém estava fazendo isso.

Achei que ouvir ajudaria. Estive entre educadores Quaker e conselheiros de pares, então eu experimentei todos os tipos de escuta. Treze para ser exata. Eu escutei para entender, reenquadrar, liberar sentimentos, planejar, desbloquear, desafiar, confortar, resolver, interpretar, informar, difundir, orientar e ensinar.

Eles foram úteis. Mas eles não produziram pensamento independente. Eles ajudaram em outras coisas. E eles produziram boas ideias às vezes. Mas não importa que tipo de escuta eu fiz, as pessoas não estavam confiantes pensando por si mesmas. Na maior parte do tempo, eu pensava por elas. Elas provavelmente não teriam colocado dessa forma. Elas geralmente ficavam satisfeitas com os resultados. Mas eu sabia que minha escuta os havia levado, embora astutamente, à minha ideia de para onde elas deveriam ir. E elas vieram de boa vontade.

Eu não sabia como manter o pensamento próprio delas funcionando. O estranho era ver como elas estavam bem com isso.

Eu não estava bem com isso. Parecia-me que o mundo, e cada uma das vidas existentes nele, precisava de um pensamento novo, não de um pensamento guiado, moldado, recompensado, derivado, complacente, igual.

Então, um dia, decidi jogar fora tudo que sabia e começar do zero. Eu realmente não poderia fazer isso, é claro, porque quem somos é onde estivemos. Mas eu fiz o meu melhor. Afastei-me das teorias, processos e conhecimentos que adquiri através do meu estudo de várias abordagens psicológicas e filosóficas da psique humana e comecei de novo. Eu me perguntei, qual era o mínimo que eu poderia fazer para acender, mas não influenciar, o pensamento de uma pessoa? E o que eu poderia fazer para que isso continuasse?

Eventualmente, eu enfrentei. Era embaraçosamente simples: esteja presente e não fale. (Mais tarde, é claro, essa noção simples acabou se tornando cada vez mais complexa.)

Então, no fundo, intrépida, eu decidi fazer isso. Prometer isso e cumprir.

E foi isso que funcionou: eu prometi.

Perguntei às pessoas se estariam dispostas a que eu tentasse fazer isso com elas. Eles estavam.

E foi surpreendente. O pensamento que surgiu foi tão bom quanto, muitas vezes melhor do que o pensamento que vinham de minhas perguntas orientadoras, tão inteligentes. Como poderia ser? Eu agonizei. Eu não tinha feito nada. Eu tinha apenas sentado lá, sem dizer nada. E eles sabiam disso. Como isso pode ser tão eficaz? Eu estava extremamente curiosa sobre isso. Mas fiquei com medo de pensar muito sobre isso, com medo de que tudo azarasse. Então, continuei fazendo isso. Eu acrescentei algumas coisas de vez em quando, mas os acréscimos pareciam distrair. Finalmente, voltei a essas duas coisas simples: esteja presente e não fale. Eu prometi. E eu mantive a promessa.

Ao longo do caminho, quando eles disseram que estavam realmente acabados, fiquei tentada a apresentar algo sábio e maravilhoso do meu vasto e, claro, impressionante conhecimento e experiência, com alguma pergunta brilhante de morrer que os deixaria deslumbrados, sim, Eu. Mas cerrei os dentes e voltei a me perguntar se eles poderiam pensar ainda mais longe do que isso, por si mesmos.

Fazer com que seu próprio pensamento continuasse foi um pouco complicado no início. Acompanhamentos como “É isso?” Ou “Você terminou?” Ou “Continue” nem sempre faziam muito efeito. E certamente qualquer questão referenciando a minha escolha sobre o seu conteúdo fracassou completamente. _ Você pode me falar mais sobre …?_ Eu ouço você dizendo isso … ‘,’ Você já pensou sobre …? ‘E’ Você poderia imaginar em vez disso …? ‘Foram desastrosas. As pessoas visivelmente passavam de energizadas a enervadas, de autônomas a anônimas, em um piscar de olhos.

Então parei com isso e tentei encontrar uma versão do ‘diga mais’ de ‘esteja presente e não fale’. Depois de vários anos esfaqueando no escuro, tentei: O que mais você pensa, ou sente, ou quer dizer?Funcionou. Eles continuaram e eu fiquei fora disso.

Eu temia que eles pensassem que eu não estava ouvindo, já que eles haviam acabado de dizer que estavam realmente acabados. Mas eu estava descobrindo que onde havia algum pensamento, poderia haver mais, apenas com o incentivo certo. E quase sempre — e se você pensa a respeito isso é incrível — o pensamento adicional que eles produziam era ainda mais valioso do que seus pensamentos anteriores.

Então, tentei de novo. E de novo. O mesmo ‘ O que mais você pensa, sente ou quer dizer? ‘ Até que eles realmente tenham acabado, como se não tivessem resposta alguma.

Esse se tornou o foco de todo o meu trabalho por um tempo. Eu estava em uma missão. No começo, eu estava fazendo tudo de graça. Quem iria pagar para eu dizer ‘nada’?

Mas muitas pessoas disseram que foi a experiência de escuta mais valiosa que já tiveram. Sério? Então, por fim, comecei a cobrar, e “prendi a respiração”. Eles pagaram. E me agradeceram.

Isso me confundiu. O que eles estavam pagando? Minha presença e meu silêncio e a mesma pergunta contínua feita repetidamente até que não funcionasse mais? Aparentemente sim. Não havia mais nada para pagar. Então, eu tive que me perguntar novamente, por que eu estava produzindo resultados tão valiosos?

Essa pergunta demorou um terço da minha vida para responder. (Na verdade, meus colegas e eu ainda estamos trabalhando nisso; essas respostas são sempre emergentes, ao que parece.)

Durante esse tempo, descobrimos que dentro dessa promessa de não falar, nesse simples acordo de três facetas de parar de interromper (começar a dar atenção, ficar interessado e ‘dividir o palco’), tem muita coisa acontecendo. Dentro desta promessa, parece haver uma espécie de “codificação” para remover bloqueios no pensamento. Parece que a mente, quando não sofre interferência, faz a si mesma uma série de perguntas catalíticas, quase “inatas” quando fica presa, rompendo os bloqueios por si mesma, para que possa seguir seu caminho novamente. Tudo isso parece acontecer quando a promessa de nenhuma interrupção está em vigor e a mente está voando alto.

E nessa promessa também há uma rica colônia de catalisadores. Existem pelo menos dez condições — os “componentes de um ambiente de pensamento” que mencionei, condições que oferecemos quando damos atenção e não falamos. Esses ‘componentes’ — atenção, igualdade, leveza, apreciação, sentimentos, incentivo, informação, diferença, questões incisivas e lugar — exploraremos em novos detalhes mais tarde. A questão aqui é que eles realmente geram pensamento. Decidir vivê-los é decidir valorizar o pensamento humano independente.

Portanto, penso nessa promessa de não interromper como uma espécie de zigoto. Os zigotos me hipnotizam: uma célula se combina com outra para se tornar uma única célula. Eu adoro esse desafio matemático. E dentro dessa nova célula está o material de trilhões de outras células e suas expressões heróicas e resplandecentes que colaboram para se tornar uma entidade totalmente improvável de majestade inefável: nós. Acho que atenção e interesse são assim. Deixe-os se encontrar e você criará um pensamento independente — a articulação singular e triunfante dessa maravilha que é o Homo sapiens. Será que a atenção e o interesse criam o pensamento? um “ser” que está carregado com o fogo da vida? Eu penso que sim.

A ignição do pensamento independente acontece dentro de nós quando experimentamos atenção e sabemos que não seremos interrompidos. É o saber da promessa que produz a confiança, que produz a coragem, que produz nosso novo pensamento.

Portanto, na maioria das vezes, a atenção generativa era suficiente. E era esplêndido.

Mas às vezes não era suficiente. Às vezes, a pessoa de repente não conseguia se abrir sozinha. Elas ficaram perplexas. Eles paravam. E eu não sabia o que fazer. Eu não conseguia descobrir como ajudar alguém a passar por um bloco sem dirigi-lo. Fingi por um tempo e mancamos. Eventualmente, provavelmente desesperados para se libertarem das minhas declarações repentinas e atípicas de “siga-me”, eles começaram a pensar novamente e conseguiram romper por conta própria.

Com o tempo, ponderei sobre isso: eles iriam se abrir por conta própria se pudessem. Eu tinha ‘visto’ esses momentos. Com o tempo, fiz o possível para desconstruir seus avanços e discernir o que haviam acabado de fazer por si mesmos.

Finalmente, eu pude ver. Eles haviam se feito uma pergunta revolucionária espetacular. E eles chegaram lá perguntando a si mesmos um conjunto de outras perguntas primeiro. Foi uma sequência lógica e bela, flexível e capaz de pular de uma armadilha para uma pergunta, para uma outra armadilha e para outra pergunta, até que finalmente chegasse à pergunta mais libertadora de todas. Anos depois, eu classificaria essa como uma “questão incisiva”, porque era, de fato.

Que fabuloso, eu percebi. Talvez eu pudesse fazer essas perguntas às pessoas, terminando na questão incisiva, quando elas dissessem que estavam presas, em vez de fazê-las sobreviver às minhas oscilações e colapsos. Tentei. Funcionou. Praticamente todas as vezes.

E ainda funciona. Esse conjunto de questões (algumas das “inatas” que mencionei) parecem ser a força vital da própria mente.

Eu disse também que recentemente começamos a entender que a mente parece pensar em ‘ondas e pausas’, não em ‘partes’. (Anteriormente, eu pensava que o caminho para a questão incisiva consistia em ‘partes’ e poderia ser mapeado. Eu estava errada. A mente não é tão previsivelmente linear.) Ela determina na pausa a questão ‘certa’ entre essas ‘questões inatas ‘para gerar uma nova onda. Como ouvintes, agora somos capazes de navegar pelo mesmo processo de “pausa” para determinar a pergunta certa quando a pessoa não pode fazer isso por si mesma.

E assim a jornada continua. Da frustração, para a bandeira branca, para a remoção, para a tentativa, para a dúvida, para perceber, para juntar as peças, para estar errada, para tentar de novo, para perceber de novo e estar errada de novo, e não virar as costas para os resultados impressionantes e para as vidas e organizações transformadas, e para a intriga contínua de nunca ver o que funciona completamente, de enfrentar o que não funciona e de ver a busca encontrar a si mesma.

Ao longo do caminho, criamos belos cursos e qualificações e outras execuções elegantes do que estamos aprendendo sobre essa forma de estar com as pessoas, esse “ambiente de pensamento”. Mas a alegria permanente é ver que essas dez condições, esses “componentes”, que preenchem a promessa de não interromper, parecem funcionar independentemente da cultura ou origem, status ou tipo de personalidade, religião ou renda, ou mesmo predisposição para ser legal. Parece que algo inato está acontecendo quando honramos um ao outro dessa maneira. Algo que vale a pena aprender. Algo que vale a pena viver.

Cap. 3: Por si mesmas

Você quer que as pessoas pensem bem? sim. Provavelmente. Pelo menos eu espero que sim. Mas a verdadeira questão é: você quer que as pessoas pensem por si mesmas? Eu ainda espero que sim. Mas eu tenho dúvidas. Porque isso é diferente. Pensar por nós mesmos é diferente. Inteiramente. E essa diferença é a medula absoluta, o quark “dentro” do próton, o ponto do ponto do ponto deste livro. Pensar por si mesmo é diferente.

A diferença entre pensar e pensar por si mesmo muda não apenas o jogo, mas a vida. E ajudar uns aos outros a pensar por si mesmos é tão diferente que nos impede em quase todas as formas de ajuda que já dominamos.

Pensar por nós mesmos é diferente de pensar. É diferente de pensar bem. É diferente de resolver, de compreender, de classificar, de levar em consideração, de ver o caminho, de listar os prós e contras, de decidir, de perceber padrões, de ver os pontos cegos, de estabelecer responsabilidade, de ficar quieto, de contar a história e fazer piruetas porque, uau, a equação finalmente funciona. Todos esses são fantásticos. Desejo eles a todos que conheço e amo.

Mas não é sobre isso. Se o que você quer fazer é pensar por si mesmo e ir o mais longe possível antes de precisar do meu pensamento — isso é diferente. Maravilhosamente, incluirá todas essas coisas, eu prometo a você. Mas isso irá muito além delas.

E é o seguinte: essa diferença ocupa quase um mundo próprio. Ele alcança e extrai os aspectos mais surpreendentes de nós mesmos. Ela encontra a honestidade imaculada e nos deslumbra. Emprega uma coragem que não sabíamos que morava ali. Ela gesta o que chamamos de criatividade, mas mal podemos imaginar. E pode desafiar tudo que pensávamos que sabíamos.

É sua própria obra de arte. E não podemos, simplesmente não podemos, saber de antemão como ela vai ser no final. Não podemos planejá-la, moldá-la, fazer um pré-trabalho, orar por ela, enviar protótipos ou segurá-la. Nada do que fizemos nos preparou para isso. Não é a nossa experiência de vida, e certamente não são as nossas qualificações profissionais. Nem nossa tradição, nem nossos rituais, nem nossos portfólios alinhados e prontos para usar, nem o passo a passo de como ser um vencedor do prêmio “de pessoa que ajuda”.

Abandone essas coisas de como ajudar. Eles não funcionam. Não para gerar o próprio pensamento de uma pessoa. Estar presente. Isso é o que é preciso. Esteja tão presente que a mente à sua frente funcione de maneira diferente.

Por si mesma.

É por isso que duvido. Eu não quero duvidar. Quero ter a certeza de que você, de que todos nós, queremos fazer isso, pensar por nós mesmos e ajudar uns aos outros a fazer isso — custe o que custar. Por mais que tenhamos que abrir mão de nossas formas já experimentadas e cansadas, por mais expostos que tenhamos que estar na tocha do guarda noturno de “como isso deve ser feito”, teremos que escolher esta diferença. E talvez você não esteja tão interessado. Talvez você tenha chegado até aqui e queira as regalias da persistência que perpetuam o passado. Eu entendo isso. Vá bem.

Mas se você estiver só um pouco ansioso para ver o que pode acontecer, quais jóias podem surgir, que mudanças inicialmente delicadas, mas logo substanciais, podem se iluminar e então iluminar nosso mundo, se pudéssemos pensar por nós mesmos? Então você vai gostar disso.

Continua ….. Os capítulos 4 a 7 foram traduzidos pela Marcelle Xavier aqui.

Para ler o livro completo em inglês adquira o título The Promise That Changes Everything da Nancy Kline. Penguin Books Ltd.

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Marina Galvão

Facilitadora e Consultora // Apaixonada por interações sociais e por experiências de aprendizagem / Pensadora livre que não se satisfaz com explicações simples.