COMUNIDADES: A “hiperconexão” de alguns, pode levar a desconexão de outros?

Marina Galvão
3 min readJan 25, 2022

De abril a junho de 2021 fui gestora de comunidade no curso Design de Conexões do Instituto Amuta. O curso foi simplesmente incrível: um verdadeiro laboratório no qual conseguimos colocar em prática conteúdos inovadores e profundos. Todos os aprendizados que emergiram desta experiência não caberiam em um texto, mas trago aqui algumas perguntas que levo comigo.

Quando falamos de comunidades estamos falando de um grupo que possui alguns elementos em comum, mas que é essencialmente heterogêneo, afinal é composto por pessoas diferentes, com visões, percepções, vontades, gostos e intenções diferentes.

Durante a experiência do curso estive atenta a essas diferenças, e me ocorreram alguns questionamentos que não espero responder aqui, mas que pretendo compartilhar e carregar comigo até que sua compreensão esteja mais madura.

No processo do curso observei pessoas que “logo de início” se conectaram — tanto entre si quanto com a proposta em geral. Observei também algumas pessoas que não fizeram esse movimento imediatamente, ou seja, que não encontraram o “fio conector” com a mesma velocidade.

Para algumas pessoas essa conexão não era essencial para aproveitar a jornada, porém, para outras, esse era um desejo real, mas que levaria um tempo maior para se concretizar. E comecei a me perguntar: Se eu desejo ser parte, mas não consigo me sentir parte, eu posso acabar fazendo o “movimento contrário” e me ?

Com o passar do tempo, fui me questionando se o espaço que fortalecia a integração daqueles que já se sentiam parte poderia acabar promovendo menos pertencimento àqueles que ainda não haviam se conectado. Será que a “hiperconexão” de alguns poderia promover desconexão em outros? Haveria uma forma de cuidar para que as pessoas não se afastassem mais?

Acredito muito na responsabilidade que cada um carrega de cuidar daquilo que é importante para si. Gosto de confiar que as pessoas vão se posicionar e agir em prol daquilo que é relevante para seu bem estar e para suas intenções. Penso que cuidar de si é cuidar do grupo, e que isso deve estar claro na construção de uma comunidade. Ao mesmo tempo, confio no poder que o design tem para potencializar conexões e endereçar tensões como essa, e creio que possa existir um design para cuidar dessa desconexão.

Não acredito que são encaminhamentos antagônicos; penso que podem ser complementares, mas caso esta hipótese se concretize como uma situação emergente, como poderíamos endereçá-la da melhor forma? Quando estamos nos propondo a cuidar da construção e da evolução de uma comunidade, para onde devemos apontar essa bússola?

Bom, como disse no início não intenciono entregar aqui uma resposta; escrevo na esperança de que outros possam me ajudar a ampliar essa compreensão, em especial os outros designers de conexão que essa turma formou.

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[Artigo da série Retrospectiva 1º semestre 2021 || Texto elaborado após minha participação como gestora de comunidade no curso Design de Conexões, criado e conduzido pela amiga Marcelle Xavier — fundadora do Instituto Amuta — nos meses de abril a junho de 2021. Exerci esse papel ao lado dos queridos Maurício Assis, Rodolfo Bonifácio e Estevão Andrade ]

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Marina Galvão

Facilitadora e Consultora // Apaixonada por interações sociais e por experiências de aprendizagem / Pensadora livre que não se satisfaz com explicações simples.